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I Encontro Interinstitucional de Atendimento Psicológico à Queixa Escolar (2004)

Comissão Organizadora

  • Marilene Proença

  • Beatriz de Paula Souza

  • Carla Biancha Angelucci

  • Cíntia Copit Freller

 

     Nas duas últimas décadas a Psicologia Escolar/Educacional tem explicitado elementos que aprofundaram a compreensão dos processos de produção das queixas escolares. Essa compreensão possibilitou o início de uma transformação das práticas de intervenção realizadas em serviços-escola de Psicologia e demais equipamentos de atenção em saúde mental.

     Tais aprofundamentos derivam-se da consideração do homem como ser social, que se humaniza nas suas relações grupais e institucionais, como na escola. Assim, com as novas perspectivas que se abrem, há a necessidade de estudos mais aprofundados das dinâmicas institucionais, da participação da escola na construção de tais queixas, assim como o reconhecimento da relação de mútua determinação indivíduo-sociedade.

     A realidade de nossas instituições de ensino de Psicologia mostra, de modo geral, a pequena apropriação desses conhecimentos nas práticas de atendimento, que ainda não superaram a abordagem tradicional de diagnóstico e terapia, centrada em uma concepção de indivíduo abstrato, como se seus pertencimentos sociais fossem pouco importantes.

     O Encontro Interinstitucional de Atendimento Psicológico à Queixa Escolar, realizado anualmente, tem como objetivo conhecer, discutir e construir novas práticas de atendimento psicológico prestado a crianças e jovens com queixa escolar.

Plenária

Coordenação: Ms. Beatriz de Paula Souza

Relatora: Mariana Peres Stucchi

A plenária inicia-se com o levantamento de dois pontos apresentados no programa, assinalando o que devemos pensar como arremate para este encontro:

  • I. A importância do atendimento a crianças e adolescentes com dificuldades no processo de escolarização; e os desafios da implementação deste atendimento nas instituições de ensino de Psicologia.

  • II. Continuidade da articulação entre Instituições de Ensino Superior: agendamento de data e pauta do II Encontro; constituição de sua Comissão Organizadora.

A coordenação da mesa sugere que se faça uma fala de encerramento breve e que se prossiga para a discussão sobre o II Encontro. Todos concordam.

Beatriz ressalta a importância do atendimento às escolas, resgatando a apresentação de Marilene Proença, que apontou para a inadequação dos atendimentos majoritariamente realizados. Afirma que é importante para a população receber atendimento que dê mais conta de suas necessidades, de não ser culpada sobre algo de que é vítima, ou patologizada e dominada; para os educadores, que precisam troca, informação e apoio; e para quem atende, que pode aprender muito com o contato com o meio escolar e, melhorar sua teoria e prática.

Enfatiza que tanto a comunidade quanto (especificamente) os professores têm necessidade de melhores atendimentos, pois a angústia e o sofrimento estão grandes, como pôde nos apresentar uma professora durante o debate. Há uma discussão muito importante para a formação, que permeia esses atendimentos, que é a dicotomização entre ciências de instâncias não individuais (instituição, grupo, sociologia) e ciências de disciplinas de olhar para o individual, particular. Os alunos registram separadamente e buscam as ciências institucionais para usar na instituição, enquanto para a queixa individual, buscam a psicologia individual; precisamos trabalho no sentido de dissolver essa cisão.

Diante disso, Beatriz cita Hegel: “o universal só adquire realidade concreta através do singular e, do mesmo modo, o sujeito singular e particular só encontra no universal a base indestrutível e o verdadeiro conteúdo da sua realidade”, buscando mostrar como essa discussão é fundamental. Assim, refere-se à idéia de construir um trabalho que parta do “um” e integre ciência de ambas psicologias, formando psicólogos que não tenham “gavetas” separadas; psicólogos clínicos não têm construído isso e nós também não. E questiona até que ponto não estamos caindo num sociologismo retrógrado, que sustenta o primado da sociedade (e também das instituições) e reduz o indivíduo a “mero exemplar do gênero, atribuindo-lhe uma importância subalterna” (Horkheimer e Adorno).

Afirma que atualmente, o psicólogo escolar é aquele que trabalha na escola (referindo-se à definição em função do local de trabalho). E refere-se a Elenita Tanamachi, segundo a qual: “o psicólogo escolar deve tomar a educação escolar como objeto de investigação, a serviço do qual colocar-se-á tanto como pesquisador, como aplicando os conhecimentos acumulados pela psicologia”. Ou seja, enfatiza a definição relacionada ao objeto, a um campo, ao campo educacional – como outras instituições educativas e o atendimento às dificuldades que o Indivíduo enfrenta em seu processo de escolarização.

Assim, destaca as seguintes perguntas enquanto questões norteadoras da discussão:

  • Como construir um atendimento que parte do indivíduo e desenvolve a investigação e a intervenção nas queixas escolares, a partir de uma visão dialética da relação indivíduo-instituição-sociedade?

  • Quais os desafios de sua implementação nas Instituições de Ensino Superior? Que estratégias têm sido utilizadas nesta direção e, quais seus efeitos?

Enfatiza a necessidade de ampliarmos as frentes de trabalho, questionando: “se já construímos muito no âmbito institucional, será que não temos que ir atrás do indivíduo?” Afirma que lócus e objeto de intervenção não devem ser confundidos e enfatiza que se deve ampliar a Psicologia Escolar/Educacional para o atendimento ao indivíduo que busca atendimento à queixa escolar.

Beatriz refere-se às questões a serem propostas para o próximo encontro, ressaltando a importância de se trocar experiências e reflexões, buscando construir trabalhos com essa perspectiva de integração. E afirma que essa troca se torna mais interessante em função da diversidade de instituições e de trabalhos desenvolvidos; é um encontro que mobiliza e tem efeitos no sentido de conquistarmos espaços melhores.

Então, Beatriz questiona: para próximo encontro, quais os objetivos? Que formato terá? Quando será? Quem será da comissão?

Discussão

Objetivos:

  • Dar continuidade e aprofundar os trabalhos do I Encontro; ou seja, procurar respostas para nossas perguntas norteadoras:

    • o como construir atendimentos às queixas escolares a partir dos Indivíduos que procuram ajuda nas Instituições de Ensino Superior que integrem os conhecimentos do campo escolar/educacional?

    • o como implementá-los nas Instituições de Ensino Superior?

  • Diferenciar dos outros espaços de discussão de nossos trabalhos: Congressos e Associações. Nossas especificidades: focado no atendimento às queixas escolares a partir da demanda individual que procura as IES. Interinstitucional – integrando membros das Instituições que formam psicólogos; ou seja, compromissado com a formação dos psicólogos (embora os encontros devam ser abertos, na nossa opinião)

  • Freqüência da realização dos Encontros e Data:

    • Sugestão de ser uma vez por ano, ou que a cada encontro se decida sobre o próximo. Proposta para que seja no começo do ano, fim de março.

  • Avaliação:

    • Sugestão de que se realize em cada instituição uma avaliação acerca deste I Encontro.

  • Propostas dos participantes:

    • Que haja espaço de troca de experiências, com relatos de experiências de intervenção.

    • Proposta de um encontro não só com mesas, mas com discussões temáticas em grupos e finalização com apresentação de painéis.

    • Questão central: como estabelecer relação indivíduo e sociedade na hora de pensar o trabalho. Sugestão de ter alguém da psicologia social, pensando a constituição do homem no mundo; idéia de que Psicologia Escolar é área paralela. Afirma-se que neste encontro está sendo discutida a formação do psicólogo que vai pro campo, com olhar específico sobre a escola, mas deve-se pensar sobre o olhar do homem no mundo.

    • Necessário falar sobe políticas públicas que nos tocam.

    • Idéia de que questões teóricas são interessantes, mas a troca de experiências, mais do que ouvir alguém falando, seria importante; os outros querem falar, ser ouvidos. Importância de não se jogar a angústia: criar espaço para falar, ouvir e buscar soluções, como um grupo de discussão (a troca com outro que não está ao nosso lado todos os dias é muito enriquecedora, apesar da angústia que pode despertar).

    • Pequenos grupos é uma idéia de trabalho. Mas como organizar? Pode haver fala pequena como motor de discussão, ajudando a aquecer com elemento comum para gerar discussão.

    • Importância de haver um elemento que congregue as falas nos pequenos grupos: apresentações, relatos – mas que foco daríamos a nossa experiência? Beatriz retoma a questão proposta inicialmente, referente a como dialogar com a possibilidade de findar a dicotomia indivíduo/instituição. Será possível ou não? Na formação são apresentadas diferentes teorias, que nem deixam clara sua visão de homem, de mundo e de homem no mundo. Será que quando trabalhamos com psicologia escolar, estamos deixando indivíduo de lado? – Questão que nos faz rever a relação que teremos com a comunidade, no sentido de recuperar diversas formas de trabalho, podendo dialogar (a fim de não deixarmos ampla gama de possibilidades sem interlocução, sem reflexão).

    • Discutir homem/sociedade, teoria/prática. Ambos são importantes, mas não adianta apenas relatar as experiências sobre estes temas. Tem que haver um fio condutor, um norte para os relatos desembocarem em um diálogo. Elenita conta sobre experiência de semana de discussão sobre Psicologia em Bauru. Diz ser importante uma contextualização histórico-sócio-política e teórica, do ponto de vista do conhecimento, para pensar as diferentes possibilidades de trabalho. A relação teoria/prática vai contar, mas com base em certo referencial.

    • Reflexões em cima da prática, com base em um referencial teórico. Qual a visão do lugar do psicólogo, do papel deste, do objeto? Inclusive, discussões sobre pensar a psicologia entre saúde e educação.

    • A explicitação de referencial é possibilidade de falarmos sobre trabalhos e criarmos sobre os casos, criarmos conhecimento, não apenas trocarmos meios. O referencial é condição de apropriação do conhecimento psicológico que está sendo criado. Sai da prática simplesmente. Começamos por isso hoje e precisamos manter.

    • Ideal é unir as duas psicologias pensando um papel do psicólogo. Focar na educação com cruzamento teoria e prática, pois só referencial teórico não basta. Diferentes referenciais com diferentes intervenções se apresentam. Na publicação em que Marilene, Adriana, Yara e Beatriz (entre outros) apresentam artigos, as coisas se cruzam. Têm referenciais semelhantes, mas com posições diferentes do psicólogo dentro da escola.

    • Temos que discutir o objeto de estudo e o papel do psicólogo.

    • Beatriz afirma que saiu surpresa da mesa, por se apresentarem quatro perspectivas bastante diferentes, mas com uma série de pontos em comum. Teorias diferentes que lidam com o mesmo fenômeno, que se impõe e gera semelhanças, que nos une para além da teoria. E é interessante pensar como a gente consegue conquistar espaço institucional para pôr em prática essas formas de atendimento?

    • Leandro ressalta importância de se contemplar a preocupação atual, para que no segundo encontro, haja um debate epistemológico do trabalho em cada instituição, para não usarmos termos que podem ficar abstratos para os que não os usam no cotidiano da mesma forma. Afirma que a troca de experiências precisa ser muito organizada, para não ser feita sem amarração final – que foi o que aconteceu na Semana da Clínica Escola – contemplando o que está no folder de apresentação do Encontro.

    • Quanto à discussão entre indivíduo e sociedade; teoria e prática; clínica, escola e instituição; e, pensando numa Psicologia não apenas Escolar, fica uma indagação para uma Clínica que fica excluída da atual atuação do psicólogo escolar: será que são diferentes? Será que não devem se modificar para poder dialogar?

    • As escolas não sabem desta discussão e ficam esperando testes e avaliações cognitivas dos psicólogos escolares. Precisamos levar esta discussão para o meio educacional também. Isso estaria junto a pensar estratégias para implementação do trabalho, pois já houve tentativas que foram abortadas. Uma das estratégias seria pensar como encaramos a demanda que vem do indivíduo. Como não colocamos a psicologia individual na escola. Fizemos essa adesão também, usando referencial para atender indivíduo que chega com queixa escolar. É errado atender individuo em Psicologia Escolar? Será possível? Como? Que Clínica será essa de que falamos? São questões para pensarmos e consolidarmos para chegar a outras discussões com mais clareza de nosso dilema.

    • Discutimos relação indivíduo x instituição, questão central entre a clinicalização e institucionalização da Psicologia, que é dicotomia não mais colocada. Explicitar essa questão no próximo evento seria muito importante. E é necessário ter isso claro para ir a outros meios, como educacional.

    • Seria interessante pensar numa psicologia aplicada que garanta a articulação dos profissionais. Como fazer isso? Pensar nos sentidos e significados.

Composição da comissão para organizar o II Encontro A partir destas idéias, passou-se à formação da comissão que organizará o próximo encontro, em março de 2005. Fecha-se a comissão com representantes da: UniA, UNICSUL, USP, PUC, Mackenzie, Universidade do Taboão, Metodista, UNICapital, São Judas e UNESP Bauru. Essa comissão se reunirá daqui a um mês para preparações.

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